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PATRICIA FURLONG MOSTRA NOVA FASE
Angélica de Moraes

PATRÍCIA FURLONG  MOSTRA NOVA FASE  

Influenciada pela obra de Hélio Oiticica, a pintora troca a pintura gestual por insinuações neopop em um novo trabalho que consumiu três anos até sua concretização.
Patrícia Furlong começou a trabalhar nas obras que inaugura hoje na Galeria São Paulo há três anos. Foi num processo lento de busca de uma nova expressão, após o impacto de conhecer a fase concreta de Hélio Oiticica. Antes de ver os Metaesquemas de Hélio - rigorosas composições geométricas de retângulos perfilados em sutis assimetrias - Patrícia fazia uma pintura gestual, de traços amplos e livres, nascidos da intuição e inseridos na tradição do abstracionismo informal. Partir para o pólo oposto é como dar um salto mortal.
O sucesso depende dos músculos da ginasta e da sua disciplina para treinar os movimentos que evitarão o desastre. Por vezes Patrícia conseguiu realizar a proeza. Por diversas outras, estatelou-se. O resultado é uma mostra bastante desigual, que talvez tenha se realizado antes do tempo. Antes da artista aperfeiçoar seu salto. A velocidade com que as artes visuais revolucionaram-se neste século parece ter esmagado a criação do novo. Hoje, o território da arte quase limita-se apenas à articulação dessa herança de ousadias em expressões próprias. Mas há o risco de, com o aval da tradição, se produzir coisas bastante comportadas. Patrícia bem que tentou evitar esse bom comportamento, fazendo o que denomina de "maldades cirúrgicas". A maldade seria alterar com rabiscos as mensagens da mass-mídia, transformando-os em algaravias vagamente orientais. "Reuni o material para esse trabalho visitando as empresas de colagem de out-doors. Recuperei papéis impressos não utilizados", conta Patrícia. Com eles, substituiu a massificação da imagem do cartaz pela pessoalidade da pintura artística.
Essas interferências deram origem tanto a trabalhos de influência concreta como a obras de inegável sabor neopop. Uma das peças melhor resolvidas da exposição acontece a partir de um anúncio de cigarros Malboro. As letras banais dão lugar a uma bem equilibrada composição abstrata. Conclusões maduras também acontecem nas obras em preto e branco nascidas apenas de letras. Mas há resultados quase escolares, como a tela com o logotipo do Mac Donald's, que resistiu à tentativa de uma nova visualidade. Ou a tela Carrinho, onde se instala um pop mal digerido. "Meu interesse maior é a palavra, a poesia saída desse lixo urbano", diz a artista. Aos 37 anos, Patrícia tem muito tempo pela frente para aperfeiçoar a bússola.

Angélica de Moraes, 1992

matéria para o Estado de São Paulo, 16/11/1992

2010 - presente
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