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S.I.G.L.A
Lucas Ribeiro

 

S.I.G.L.A.

Uma artista com obras em importantes coleções particulares e institucionais, que participou da Bienal de Havana, expôs em grandes galerias, museus e em países como Dinamarca e Japão não pode ser exatamente tratada como uma “outsider”. Ainda assim, observando o percurso de Patricia Furlong, seu trabalho parece relativamente deslocado em relação às tendências exploradas por seus contemporâneos. Uma obra em descompasso voluntário que agora, vista com a devida perspectiva, impressiona pela relevância.

A exposição S.I.G.L.A. (Sequência Indexada de Gestos e Linguagens Artísticas) propõe um olhar atento para a conexão entre diferentes fases da produção de Patricia Furlong, do final dos anos 80 até hoje. Um trabalho alinhado com alguns dos principais focos do programa da galeria LOGO, lidando com a influência do branding na arte, o espaço urbano como plataforma expressiva e o impacto dos meios digitais na visão do artista.

Na série Vedações, do início dos anos 90, a artista parte do que hoje entende como um “impulso construtivo” para transformar anúncios publicitários através da pintura, bloqueando ou reconfigurando caracteres. Em outros trabalhos, sobre fotos, veda toda a propagada da então visualmente poluída paisagem de São Paulo, isso 15 anos antes da “Lei Cidade Limpa”. Mais um exemplo da produção anterior de Patricia que será exibido são obras da série Comandos, onde ela transforma o mobiliário urbano, sua estética e função ordenadora para criar obras interativas e sensíveis.

Depois de 25 anos trabalhando em São Paulo, atualmente a artista está afastada da metrópole, com seu atelier cercado por uma vegetação exuberante. Ainda assim, seu jardim é pensado como construção humana, para ser então fotografado, pintado, fragmentado e justaposto. O resultado desse processo traz um contraste de escalas e um acúmulo de dados que faz pensar tanto na cidade quanto nas janelas e grids sobrepostos da internet. Também de seu jardim surgem às pinturas de sombras de árvores, essas formas projetadas pelo sol que, vistas no contexto da exposição, parecem impressas na grama.

A exposição S.I.G.L.A. traz à tona tanto a complexidade expressiva, quanto a acessibilidade do vocabulário visual de Patricia Furlong. Pois qualquer consumidor vivendo entre prédios e sites está apto a se relacionar efetivamente com a obra da artista. E, portanto, está sujeito a subversão de seu próprio olhar para o meio em que vive.

 

Lucas Ribeiro, 2012

Texto para a exposição na Galeria Logo.
 

2010 - presente
2010 - presente
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