É AQUI
Luiz Paulo Baravelli
É Aqui
Dentro da paisagem há um jardim. Dentro do jardim há uma visão, a visão de Patricia. Dizendo de outro modo: dentro da Patricia há uma visão, a visão de um jardim, o jardim dela. Patricia vê o seu jardim e o fotografa, o desenha e pinta. Lá no canto há uma nesga azul de céu e é um aviso: lá fora, além, existe uma paisagem, um mundo que vai se desdobrar ao infinito.
Paisagem, só existe uma. Partindo da rua Manuel Pereira Leite, 100, 06709-280, Cotia, em um hipotético e lento voo rasante e indo em qualquer direção, cada cena da paisagem vai fluir sem interrupção para a próxima e a outra e a próxima, sobre as florestas e os quadriculados dos campos e cidades até que 40 mil quilômetros depois voltamos ao ponto de partida sem que haja uma descontinuidade. Uma pintura é um olhar perpendicular a esse fluir indiferente, ela é a escolha de uma pessoa que pára e diz: é aqui. Toda obra de arte começa por esta decisão: é aqui, vou ficar aqui e tentar entender, atravessando com minha visão o fluxo contínuo e ininterrupto do tempo e da natureza. O jardim é um artificial feito de naturais, assim como são as pessoas e a pintura (a arte, artificial) é a mudança abrupta do que é natural e acidental para o que é humano, a escolha do artista.
Dentro do jardim tem outro jardim e mais um, e ainda outro. Dentro da visão da Patricia tem mais uma visão e ainda outra até que esta depuração resulta aqui em uma espécie de auto retrato feito de vegetais e espaços.
Se a arte não serve para nos ensinar a viver, não serve para nada e o que Patricia nos diz aqui é claro: pare de procurar à toa, escolha seu lugar, olhe e pense. Olhe de novo e pense de novo, outra vez e mais uma, fique lá até entender, até se entender. É assim simples e assim dificil.
Luiz Paulo Baravelli, abril de 2015
Texto para a exposição na Galeria Solange Viana.